A dupla se dava bem, não era de brigas, gostava de carinho e de brincar. Como qualquer cachorro, faziam xixi nos cantinhos, e a área interna da casa era proibida para eles. "Lugar de cachorro é no quintal" passou a ser um mantra. Era difícil para nós, as crianças, nos acostumarmos com isso, afinal, a Pupu vivia dentro de casa... mas, as coisas mudam, e uma vantagem de ser criança é a infinita capacidade de adaptação.
A dupla já estava conosco havia uns três meses, quando uma Tia me levou para conhecer a cadelinha pequinês que ela já tinha encomendado para mim. Quando voltei para casa com a Cinira no colo, dormindo a sono solto, já estava de noitinha, e ninguém botou muito reparo nela. A fofura dormiu numa caixinha, dentro de casa, ainda isolada dos outros cães, até que as vacinas estivessem todas providenciadas.
A apresentação da Cinira aos demais cães da casa não demorou muito, talvez um mês. Ela passou a dormir lá fora com eles, e logo ocupou o melhor lugar na casinha, que tinha duas portas, deixando Horácio e Mug dividindo uma delas. Algumas rusgas começaram a acontecer, o que nos assutava, afinal nunca tínhamos visto uma briga de cachorros na vida! Numa dessas, fui acudir o Mug, que era menor, mas a briga ainda não tinha terminado de vez. Quando coloquei a mão nele, o Horácio se virou para continuar a confusão, e acabou acertando uma mordida na minha mão. Não sei quem se assutou mais, eu ou ele. O coitado ficou quase uma semana de rabinho baixo, visivelmente arrependido. E eu, fui tomar uma anti-rábica básica no pronto socorro, e ganhei de brinde uma anti-tetânica! Lembro de ficar uns 3 dias sem assentar... Nem esse incidente me fez ter medo de cachorro. Mal voltei para casa e já estava no quintal de novo, com eles. Depois de estabelecida a hierarquia - Cinira era a líder - a paz reinava quase sempre. E assim, tínhamos nossa própria matilha!
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