No dia seguinte, acordei cedo e fui examinar com calma o cãozinho. Pulgas cobriam o chão, a caixa, o bichinho. Estava animado, alegre e disposto a brincar. Se coçava muito, claro. Não devia ter mais de um ano. Não fez xixi enquanto não lhe coloquei a coleira e o levei até a árvore mais próxima. "Deve ser de apartamento", pensei. Liguei para clínica e expliquei a situação. Coloquei o cocker no carro e o deixei para um bom banho, com direito a remédio para tirar as pulgas, vermífugo e vacinas. Fui trabalhar. Imprimi cartazes, enviei e-mails, anunciei no site que havia encontrado um cãozinho perdido. No final do dia, busquei-o na clínica e lá deixei R$ 150,00. Cheiroso e de gravatinha, voltou para minha casa no banco da frente. Comeu, brincou, dormiu.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
o hóspede
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
bumba-meu-boi
domingo, 17 de fevereiro de 2008
quase um cocker
Comentei sobre isso com minha amiga "gateira". Ela me sugeriu procurar um cachorrinho junto à ProAnima, uma ong que atua aqui no DF. Entrei no site e vi muitas fotos. Claro que achei todos lindos e adoráveis. Mas eu não pensava em um filhote. Não teria tempo, e minha paciência (que já não é de grande volume, diga-se de passagem) estava quase toda investida na Shiva. Procurava um cãozinho adulto. Entrei em contato com a ong e agendei uma visita.
Minha amiga "gateira" foi comigo. Foi um dia difícil. Eram muitos cães precisando de um lar, de alguém que cuidasse deles, que desse carinho. Não que estivessem maltratados, pelo contrário. Mas estavam disponíveis para adoção, alguns há muito tempo. Eu olhava para tantos bichinhos e minha vontade era levar todos para casa. Minha amiga já estava chorando. Eu nem tentava conter as lágrimas. De repente, bati o olho no fundo da área onde estavam. Dentro de um buraquinho, latindo deitado, estava um pequeno cãozinho preto e peludo. Chamei, e ele veio. Os mais de 10 filhotes barulhentos se amontoaram sobre ele. Tentava se desvencilhar, mas os filhotes eram insistentes. Acabou voltando para seu buraquinho. Entrei no cercadinho e fui até ele. Peguei-o no colo e avisei à veterinária que viria buscá-lo, tão logo o canil da minha casa estivesse pronto. A obra não acabava nunca!!!
Quase um mês depois, as voluntárias trouxeram o escolhido. E ele já tinha nome: Guido. Chegou assutado, mas me reconheceu e fez festinha. Começaram as apresentações. Shiva e toda sua delicadeza deram boas vindas. Ele ficou apavorado! Mas em 10 minutos já tinham se entendido. Ela rasgou em tiras o paninho que estava na caminha dele. Nem fez falta. Dormiram embolados naquela noite, e até hoje dormem juntinhos, mesmo quando faz calor.
Guido foi quem ajudou - e muito - a tornar a Shiva uma cadela mais calma. Lhe faz companhia, brinca, corre, perturba, ajuda a cavar, ensina a perseguir pássaros. Me ajudou também a ter mais paciência com as maluquices da Shiva, a melhorar meus humores, a ser mais doce.
Quando contei aos meus pais e amigos que tínhamos mais um cão, acharam que eu estava louca. Minha sogra sugeriu que eu providenciasse uns netinhos para ela. E a pergunta que mais ouvi (depois do "Você ficou doida?") foi: "que raça ele é?" E eu respondi a todos: "quase um cocker"...
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
a chegada da Shiva
Chegamos na casa da minha sogra com casinha, panelas, ração, paninho, brinquedos, ossinhos e a pequena fofura. Achei que ela (a sogra) ia passar mal. Ficou branca. Depois azul. E por fim, engoliu em seco e soltou um discreto "não acredito!". Instalamos tudo na área de serviço, pois o quintal ainda não estava cercado a contento. Ela podia cair na piscina ou passar pela grade.
Fiquei ansiosa, pois fui descobrindo que cães não eram exatamente a paixão da minha sogra. Ela já tinha algumas experiências traumáticas com esses seres, mas aceitou nossa cadela sem reclamar. Tá, reclamou um pouquinho. Mas até pouco diante de tudo que se sucedeu.
Shiva crescia em saltos para mim. De 20 em 20 dias eu chegava em Brasília, e a cada visita, maior ela estava. Às vezes o focinho crescia mais que o resto. Às vezes eram as pernas que tinham espichado.
Arrancou árvores e cavou enoooormes buracos. Arruinou as plantas preferidas de minha sogra. Até as roseiras. Ela desenvolveu uma técnica de cavar e arrancá-las pela raiz. Incrível o que um labrador amarelo entediado é capaz de fazer. Abria as torneiras sozinha nos dias quentes e tomava banhos intermináveis. Ao menor sinal de aproximação, fechava a torneira e fazia cara de desentendida. As contas de água da casa da minha sogra atingiram valores exorbitantes.
Um ano havia se passado. E estávamos nós três e nossa mobília entulhando toda a sala. Já tínhamos nossa casa, mas as obras pareciam não terminar nunca. E a infância da Shiva parecia ter apenas começado. Ela já pesava quase 40 Kg. Seu poder de destruição me parecia infinito. Nada escapava ao seu bocão amarelo. "Foi adestrada pelos bombeiros", meu marido sempre repetia às pessoas que elogiavam sua educação e simpatia ao caminhar pelo bairro. Parecia um anjo sentada à porta do supermercado. Bastava chegarmos em casa e o "anjo" se tornava um furacão. Parecia um diabo da Tasmânia.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
por que cachorro?
Alguns nem eram meus mesmo. Quando vim ao mundo, aquela pequinês preta de luvas brancas já estava em casa. Depois vieram outros, e de cada um me lembro com carinho, amor, saudade. A seu modo, eles me ajudaram a me tornar a pessoa que sou hoje.
Com eles corri, dei risada, fiquei imunda, rolei na grama, peguei chuva, chorei. Esses seres interessantes dividiram comigo momentos felizes e difíceis, para eles e para mim.
Quando converso com meus amigos e surgem os "causos" de cachorros, reavivo minha memória e lembro dos meus companheiros de uma vida. E se somos muitos os amantes dos cães, por que não dividir nossas histórias?
Hoje vivem comigo e meu marido duas adoráveis criaturas que tornam nossos dias mais leves e felizes. Aqui poderei contar as histórias e os "causos" deles e daqueles que já foram habitar as nuvens macias do céu e espalhar pêlos no escritório de São Pedro. Um bom jeito de matar as saudades e homenagear os bichos que fazem nossa existência ser mais humana.